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sexta-feira, janeiro 16, 2004

“Ode a Justino”

Esse teu olhar incerto
neste mundo a brilhar
és especial em concreto
iluminas mar, terra e ar.

Meu querido tăo tenro és
diferente dos demais
mesmo com esses pés
és o orgulho dos teus pais!

Ele é mesmo especial,
é ser de outro mundo,
é melhor que o normal,
é capaz de alcançar o fundo!!

Caminhas nessas estradas…
Tratando do teu gado
fazes das cabras escravas,
é trabalho do teu agrado.

Pessoa com históri’ anormal,
encarnou nos nossos tempos
um génio quase animal,
de bradar aos sete ventos!

Ele é mesmo especial,
é ser de outro mundo,
é melhor que o normal,
é capaz de alcançar o fundo!!

Portador de grandes mistérios,
capaz de se ocultar em qualquer retrato,
e hipnotizar em casos sérios,
soltando gases em qualquer acto!

Ele é mesmo especial,
é ser de outro mundo,
é melhor que o normal,
é capaz de alcançar o fundo!!



Letra por:
Leite e Suth_Beren

domingo, dezembro 21, 2003

Justino sempre dormira numa pequena caminha de madeira ao lado da, năo muito maior, cama de ferro dos pais. Contudo, com o passar dos tempos e com Justino a crescer a olhos vistos de dia para dia, a situaçăo tornara-se insuportável e Justino foi obrigado a ir dormir para o curral.
As luas sucediam-se umas atrás das outras e Justino mudava de dia para dia. As pessoas comentavam que era de dormir com as cabras, diziam que os gases formados pelos dejectos e afins que os pobres animais expeliam das suas entranhas deviam de ter tornado Justino, o rapaz outrora franzino e com ar pálido e adoentado, num menino de 6 anos ainda mais franzino mas, agora, de aspecto mais rosadinho.
A vida que Justino conhecia até então estava prestes a sofrer uma mudança, uma grande mudança...
6h da manhã do 15º dia do mês de Setembro da era mil nove oitenta e sete, naquela Aldeia Atrás de Montes e Vales. Justino fora acordado por sua mãe. Não tinha dormido bem, mal tinha pregado olho nessa noite. Justino andava tão alterado dos nervos que, na noite anterior, quase não tocou no arroz de grelos com toucinho que Maria Albertina, sua mãe, lhe preparara com tanto afecto e carinho. Sentia algo estranho na barriga. O seu estômago contorcia-se contra sua vontade, parecia que ganhara vida própria. Justino estava nervoso... Era o seu primeiro dia de escola!
De mão dada com a mãe, Justino descia, com os joelhos a bater um no outro devido à sua extrema magreza, o caminho que ia dar à escola. A pobre criança estava apavorada. Até ao dia, a única escola que este pequeno ser frequentara fora a escola da vida. O frio na barriga ia aumentando à medida que se aproximavam da escola. Começava a ouvir-se ao longe o chimfrim das crianças que se encontravam no pátio da pequena escola depois das férias grandes.
Chegara. Apoiada no portão enferrujado da escola estava uma figura de constituição sapuda, Dona Cremilde, era essa a sua graça. Dona cremilde era a A. A. E. (Auxiliar de Acção Educativa), tipo, Contínua. Era uma pessoa muito simpática, sempre disposta a ajudar e acarinhar os 3 ou 7 ou 4 ou 9 alunos da escola. Com os seus 73 anos cheios de vida (e um bigode que metia respeito!!) era como que uma avó para aqueles crianças.
Justino depressa se sentiu reconfortado quando viu aquela senhora tão afável. Maria Albertina deu um beijo na face esquerda do seu tão amado rebento e ele,Justino, entrou na escola pela mão de Dona Cremilde, a Auxiliar de Acção Educativa.E, a vivida contínua acompanhou Justino ao local onde se encontravam os 3 ou 7 ou 4 ou 9 alunos da, a partir desse dia, sua escola.

sábado, dezembro 13, 2003

O sol começava a esconder-se por trás dos vales pintando o céu de uma intensa côr alaranjada. Nas ruas, habitualmente calmas e cravejadas de caganitas de cabra e outros animais de pastoreio, o aproximar da hora do bailarico causava um burburinho nada normal. Em suas casas, as pessoas trocavam as suas, sujas e fedorentas, roupas do dia-a-dia pelos estimados fatos domingueiros. Pendurados em postes de eucalipto bem altos, os enfeites balouçavam ao sabor da leve brisa que se fazia sentir.
As pessoas começavam a sair de casa dirigindo-se apressadamente para o largo onde tinha lugar a festa dessa noite.
Zé bigodes seguia a multidăo. Com o seu melhor fato e sapatos de sola descia elegantemente, pelo menos o mais elegante que as suas pernas arqueadas permitiam, a rua principal. Chegando ao fundo da rua reparou que um dos sapatos estava desapertado. Parou e apertou o sapato com um nó cego para que este năo o deixasse mal durante o bailarico. Ao levantar-se roçou com a cabeça num emaranhado de tecidos e folhos. Ergueu-se. Deparou consigo a olhar, deslumbrado, para a mais bela mulher que a sua vista algum dia comtemplara. Tentou falar mas o melhor que conseguiu foi um som gutural deveras nojento. Ela sorriu com as faces rosadas e convidou o tímido e embaraçado Zé Bigodes para a acompanhar ao baile. Dançaram até ficar com os pés cheios de bolhas. Os seus rostos emanavam felicidade. Estavam apaixonados!!
Năo demorou um ano até se casarem, a Maria e o Zé. E na noite de núpcias a fértil Maria foi fecundada pela escolhida semente de Zé Bigodes. A contagem decrescente começara.
Pelo sexto męs de gravidez, Maria começou a sentir desejos incontroláveis por estranhas iguarias, de entre os quais um desejo sobrenatural por degustar sabăo azul e branco, de comer, de comer sem parar.
29 de Fevereiro. Zé Bigodes descia aflito e desengonçado a rua principal rumo a casa de Ti Gestrudes, a parteira. As águas de Maria Albertina tinham rebentado.
Ao entrarem em casa dirigiram-se de imediato ao quarto onde estava Maria Albertina. Mal tinham passado a porta quando Ti Gestrudes lançou um grito de horror. Nunca vira nada assim. De entre as pernas de Maria Albertina surgiam agora outras duas pernas. E com uma fluí­dez alí­enigena seguiram-se o tronco, os braços e a cabeça. E, mal a sua desproporcionada cabeça passou a cavidade măe ouviu-se uma gargalhada. Este bébé era diferente. Este bébé era... JUSTINO!!!

quinta-feira, dezembro 11, 2003

1- "O BIG-BANG"

Maria Albertina. Uma rapariga de constituição forte e aparência descuidada, fora obrigada a trabalhar desde tenra idade para ajudar ao sustento da familia. De curvas acentuadas devido a uma camada adiposa sub-cutânea desenvolvida, era considerada pelos rapazes em idade casadoira como um bom partido, talvez o melhor de toda a aldeia.
Zé Bigodes. Um rapaz escanzelado e de aparência frágil. Pastor desde sempre, o rebanho foi o seu infantário. Ele correu com as cabras, ele brincou com as cabras, ele chorou com as cabras, ele mamou nas cabras... Possuidor de um feitio muito caracterĂ­stico, uma mistura de rude e primitivo com uma humildade e sinceridade únicas, era por vezes duro ao expressar as suas, quase sempre, curtas opiniões.

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